RESENHA: À Espera de Frankie - Maeve Binchy

 

Autora: Maeve Binchy
Editora: Bertrand Brasil
Páginas: 476
ISBN: 978-85-286-1899-0

A mãe de Frankie está desesperada para encontrar alguém que cuide de sua filha, mas não tem muito tempo de vida. Noel não parece ser o mais promissor dos pais, mas, apesar de tudo, pode ser a maior esperança da menina. Lisa está pronta para abrir mão de tudo pelo homem que ama; mas será que ele vai retribuir seu amor? E Moira sabe o que é certo e tem o poder de mudar a vida de Frankie, porém também tem segredos a esconder.
À espera de Frankie é uma história sobre famílias não convencionais, relacionamentos que não são o que parecem e um bebê no centro da vida de todas as pessoas.
Uma das grandes qualidades de Maeve Binchy é introduzir novos personagens na história sem causar estranhamento, fato comum em romances com vários heróis. E, depois que eles estão inseridos na trama, os leitores dificilmente conseguem não se apegar, seja para o bem ou para o mal.

À Espera de Frankie é, provavelmente, uma das melhores leituras deste semestre. É a primeira vez em meses que consigo ter em mãos um livro que me faça sentir tantos sentimentos de uma só vez. São muitos personagens entrelaçados, aguardando a chegada de Frankie, uma bebê que nem nasceu, mas que já modificou tantas vidas.

Noel é o personagem mais cativante e espirituoso desta história. Embora tenha um sério problema com a bebida, mora com os pais, uma família extremamente religiosa. Tudo começa quando ele descobre que tem uma filha, ou melhor, que uma mulher que ele teve um caso há alguns meses está grávida, e a criança é sua. O que intriga Noel é que, ele não se lembra de ter saído com Stella pois certamente estava bêbado.

Stella além de grávida, está em seu leito de morte. Ela não sobreviverá à cirurgia para ter seu filho. De início ele decide não assumir a criança. Primeiro por achar que ela não é sua, segundo por achar que sua família não o apoiará... Pois é bastante religiosa. Mas... Como ele poderia criar uma filha, se ao menos tinha um emprego descente? Nem estudo, nem casa e ainda mais... Como ele poderia ter uma filha, se era um alcoólatra?

De início, essas perguntas atormentam Noel ao ponto de não conseguir dormir. Até que... Alguém aparece. Emily é uma mulher madura, resolvida e que é prima de Noel. E vai morar com ele nos próximos meses. É o tipo de mulher que não mede palavras, resumindo... Ela é incrível! Quando Emily chega, parece que o mundo ao redor dá uma pausa para ouvir o que ela tem a dizer sobre determinada situação.

“Emily não ficava se lamentando sobre o tempo perdido no passado ou sobre decisões erradas ou sobre Noel ter abandonado a escola e não ter dado continuidade a sua educação”

Eu poderia dizer que Frankie é a cola que liga todos esses acontecimentos. Porém, se eu não falar de Emily e de como sua garra mudou completamente o rumo pessoal de cada personagem, estaria mentindo descaradamente nesta resenha. Ao contrário do que Noel pensava, sua família o ajuda em todos os pontos e Emily... Bem, Emily conserta tudo ao seu redor!

Com a ajuda da prima Emily, Noel volta estudar, para de beber, passa a frequentar um grupo de apoio para alcoólatras e leva Frankie para casa. Parece que não mudou nada, mas ver um homem com menos de 30 anos mudar sua vida completamente para conseguir criar e dar uma vida melhor para uma filha que descobriu há poucos dias que existe... é um peso e tanto. E Noel sabe bem disso.

O livro é narrado com maestria e segurança, em nenhum momento eu me senti pressionado ou obrigado a ler o livro. A leitura simplesmente rolou, calma e tranquila. Não fiquei com pressa, mas com medo. Sim, eu tive medo de prosseguir com a leitura de À Espera de Frankie por um motivo bem simples: eu sou medroso e tenho medo quando um livro chega lá dentro da gente e desperta algo que não conhecemos totalmente. Quando terminei de lê-lo, fiquei de boca aberta por alguns minutos, observando o vazio e tentando digerir tudo.

“Este Noel Lynch era um acidente esperando para acontecer. Uma bomba prestes a explodir.”

Outra coisa que adorei neste livro foi o entrelaçar dos personagens. Maeve criou uma teia de aranha totalmente organizada para um livro que tinha tudo para ser um drama, mas tornou-se um romance, uma novela, um filme; vi tantas coisas que me senti assistindo a uma minissérie americana, daquelas que a cada episódio conhecemos um personagem novo e estes mais a frente, se conhecem e entrelaçam-se de uma forma misteriosa. E quando isso acontece... Suas vidas estão ligadas para sempre.

“Isso não podia estar acontecendo. Ela estava se apaixonando pela primeira vez.”

Noel acaba conhecendo Lisa na faculdade, uma design com um talento incrível os dois não viram colegas de imediato, mas ela o admirava e se perguntava como ele conseguia tudo parecer tão fácil. E não era nada fácil. Lisa muda-se para a casa de Noel para ajudar a cuidar de Frankie e claro, conseguir encontrar-se. Embora seja decidida e inteligente, é cheia de problemas. E quem a ajuda? Emily, a mulher maravilha que entrava na vida das pessoas sem pedir licença.

“Prima Emily, claro. A mulher maravilha que entrava na vida das pessoas exatamente quando precisavam dela. Ela não pareceu nem um pouco surpresa ao ver uma mulher usando um vestido de renda vermelho e preto acordando no sofá.”

Ainda existe Moira, a assistente social que eu odiei de cara, mas pude conhecer a sua realidade mais a frente. É impossível odiar um personagem escrito por Maeve Binchy, como não gostar de um personagem ao conhecer a sua história e suas dificuldades? Posso dizer que Moira é dura na queda e tem motivos para isso.

“Moira nunca teve uma boneca, muito menos uma casa de bonecas. Nenhuma festa de aniversário que se lembrasse. Não podia convidar suas amigas de colégio par casa, e foi por isso que se distanciou. Quando criança, tinha medo de ter amigas ou pessoas próximas porque, mais cedo ou mais tarde, a amiga ia esperar ser convidada para a casa de Moira e então, seu caos seria revelado.”

Moira sempre ficava procurando algo para usar contra Noel, afinal, era o trabalho dela. No fim, tudo o que ela quer é encontrar um lar para Frankie, onde ela possa ser amada e tenha uma educação de qualidade. Noel, Lisa e Emily tentarão ao máximo mostrar a Moira que são mais do que capazes de criar uma criança tão linda.

Vocês deve estar se perguntando: Vitor, você ainda não parou de falar! Confesso que me empolguei nesta resenha, mas é que, são tantos personagens, tantas histórias e emoções que chega a ser difícil colocar tudo numa resenha. É uma leitura mais que recomendada para aqueles que gostam de um drama entrelaçado com romance, uma dose de humor e personagens cativantes que podem mudar tudo.

Conhecemos sentimentos que nós mesmos tentamos esconder. O amor à família, responsabilidade de seguir em frente e tomar o próprio rumo de nossas vidas. 476 páginas que me fizeram conhecer uma história diferente de tudo o que eu já li. Não é um livro que fará você chorar horas a fio, mas fará você se perguntar: isso é mesmo possível? Se você quer uma leitura agradável, emocionante e com tudo isso que mencionei nos parágrafos anteriores. À Espera Frankie é a escolha perfeita.


“Tem sempre um que beija e outro que dá o rosto para ser beijado.”

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